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Sobre a ASERG
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Toxoplasmose e a ética na propagação de informações Andréa Lambert (andrealambert@terra.com.br) Médica-veterinária, presidente da ANIDA-RJ (Associação Nacional para a Implementação dos Direitos dos Animais) - http://www.animaisdecirco.org
Renata
de Freitas Martins Jurídico Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos
Tendo-se
em vista a forte divulgação de informações preconceituosas e errôneas
a respeito da toxoplasmose, imputando aos gatos toda a culpa por sua
transmissão, abordaremos a seguir sobre o assunto, esclarecendo de vez
certas lendas. Toxoplasmose
é doença causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. O parasita
é capaz de invadir, naturalmente, qualquer organismo animal de sangue
quente (homeotermos), nos quais se multiplica em ciclo assexuado. É
parasita estrito do interior da célula (intra celular), e principalmente
células do sistema nervoso central, endotélios e dos músculos estriados
como o são aqueles esqueléticos e do coração (miocárdio). Sua
transmissão, diferentemente do que a cultura popular prega, não é dada
exclusivamente por fezes de gatos [1].
Aliás, muito pelo contrário. O modo mais comum de transmissão da
toxoplasmose é a ingestão alimento contaminado, principalmente carnes
cruas e mal cozidas. Quando um ser humano tem seu primeiro contato com agente causador da Toxoplasmose, ele pode desenvolver sintomas semelhantes aos de uma gripe, como dores no corpo, tosse, entre outros. As defesas do organismo costumam ser suficientes para conter o processo, embora pessoas com deficiências imunológicas (portadores de AIDS e câncer , por exemplo) possam desenvolver sintomas graves em função dessas infecções. O parasita pode ainda retornar caso a imunidade seja afetada no futuro. Após esta primeira infecção o indivíduo normal ganha imunidade contra a doença.
O
grande perigo da infecção ocorre quando uma mulher gestante entra em
contato com o Toxoplasma pela primeira vez em sua vida e desenvolve a
infecção, mas a mulher gestante pode se prevenir não comendo alimentos
crus ou mal-cozidos, usando luvas ao fazer jardinagem (lavando as mãos
depois) e limpar cuidadosamente o material que irá entrar em contato com
carne crua, como a tábua de cortar carne. É
bom que a gestante possa saber se já tem ou não anticorpos contra a
Toxoplasmose, até para poder regular o grau de atenção para as medidas
preventivas. Isso se consegue por meio de um exame de sangue. Assim,
a divulgação de informações de forma equivocada, além de ser
prejudicial aos gatos, também faz com que a omissão na informação da
transmissão por meio da alimentação, por alimentos como leite em
natura (sem pasteurização), verduras
e carnes mal passadas contaminadas, que é a grande fonte de infecção,
é um grande erro no ponto de vista sanitário e de saúde pública, pois
nega à população uma importante informação para a prevenção da
contaminação. Assim o preconceito sempre estará acima da verdade e
informação. Neste
mesmo sentido discorre Nara Amélia da Rosa Farias, in
“Toxoplasmose: Realidade e Preconceitos”, Revista Acadêmica de
Medicina Veterinária da Faculdade de Veterinária- UFPel- v.01,n.02 ,
02/2002: "(...)
ainda existe uma grave falta de informação entre os profissionais da área
da saúde e, conseqüentemente, do público, quanto aos riscos de infecção
dos humanos a partir de seu gato de estimação. Por
isso, ainda são freqüentes recomendações preconceituosas e sem
embasamento científico feitas por médicos e veterinários, quanto aos
animais de estimação. O
conhecimento de características biológicas e epidemiológicas do
parasita esclarece os verdadeiros riscos de infecção para o homem e os
animais, tornando possível a recomendação de medidas
realmente efetivas para seu controle." Um
trabalho de informação à população é fundamental para se esclarecer
sobre a toxoplasmose e evitar a contaminação. Aliás,
sobre este assunto, muito bem nos ensina o insigne promotor de Justiça,
Dr. Laerte Levai, em seu livro “Direitos dos Animais”: “Não
é justo discriminar os gatos pela transmissão da toxoplasmose, mesmo
porque esses animais têm costumes higiênicos bem apurados (enterram nas
próprias fezes e demonstram asseio corporal). O que pouca gente sabe, no
entanto, é que os gatos – em regra quando pequenos – eliminam
naturalmente o toxoplasma, ficando livres, em definitivo, do protozoário.
A situação de penúria e abandono que, tantas vezes atinge os bichanos,
fazendo com que eles precisem caçar para sobreviver, pode eventualmente
trazer a doença. Nesta hipótese, medidas efetivas de conscientização
ambiental e de posse responsável mostram-se fundamentais para enfrentar o
problema”. Portanto,
pelo breve exposto, é notório que a contaminação de toxoplasmose por
meio do contato com gatos é mais uma das maldosas lendas urbanas, e,
infelizmente, adotada por muitos, e inclusive pela imprensa, que,
infelizmente, deixa de cumprir seu próprio código de ética (art. 2º:
“A divulgação de informação, precisa e correta, é dever dos meios
de comunicação pública, independente da natureza de sua
propriedade”). Ética nos meios de comunicação é essencial para a correta disseminação de informações e conseqüente formação de uma sociedade com atitudes corretas e justas! [1]
É
importante salientar que o contato direto com o gato, não representa
risco de infecção para o ser humano, pelos motivos a seguir expostos:
- o período de eliminação de oocistos é muito reduzido; - os
oocistos precisam de, no mínimo, um dia no ambiente para se tornarem
infectantes e, portanto, o contato com fezes frescas não representa
risco; - mesmo durante a eliminação de oocistos, os gatos geralmente
não apresentam diarréia. Este fato, somando-se aos hábitos de
higiene do animal, faz com que não permaneçam resíduos fecais na
região peri-anal, nem em sua pelagem, eliminando o risco de infecção
dos humanos que o acariciem; - mordidas
e arranhões de gato são improváveis formas de transmissão do
protozoário, uma vez que, mesmo durante a fase aguda da doença,
dificilmente existirão taquizoítos na cavidade oral do felino, e nas
unhas, essa possibilidade é nula.
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