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Artigo 225, CF:

"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações"

 

Jararacas

  

Sandro Secutti

Biólogo 

Quando se trabalha com animais silvestres ou exóticos, principalmente em uma associação como o Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos, a qual oferece 24 horas de suporte as autoridades competentes que lidam com denúncias de maus tratos e com o tráfico de animais, além de diversas outras  ocorrências, devemos como profissionais estarmos de prontidão para qualquer  tipo de ocorrência e/ou emergência. Independente do local da ocorrência ou mesmo da espécie animal, sempre pelo bem estar dos animais.

No dia 17 de dezembro, por volta das 19:00 horas, após um dia de trabalho exaustivo, tomávamos um café para descansar e discutir os problemas e soluções, quando o telefone toca com mais uma ocorrência, mas dessa vez tratava-se de uma serpente venenosa, uma jararaca que quase atacou uma criança num galinheiro próximo de Cotia/SP, e a pedido do delegado Dr. Alexandre Palermo, fomos efetuar o resgate antes que o animal causasse algum acidente ou mesmo fosse morto pelas pessoas na clinica de reabilitação para dependentes químicos. Ao chegarmos no local com a nossa tralha de captura, tivemos que agir rápido, pois com o final da tarde avançado e com a pouca luminosidade em meio à mata atlântica, ficava cada vez mais difícil visualizar a serpente no folhiço ao lado da cerca de bambu.

Pudemos constatar pelo padrão de colorido das escamas e pela distribuição geográfica que realmente se tratava da espécie Bothrops jararaca. Estava enrodilhada com as voltas do corpo escondendo sua cabeça e expressando seus comportamentos defensivos, como bater a cauda contra o substrato e achatando o corpo dorso-ventralmente, tais comportamentos foram observados no momento de aproximação com gancho. Após o primeiro bote, o belo exemplar adulto medindo aproximadamente entre 1,10 e 1,20 m de comprimento, subiu em alguns galhos ficando a meio metro de altura do chão, onde realizou o segundo bote, em seguida com a nova tentativa de captura permaneceu imóvel sob o gancho, sendo colocada cuidadosamente dentro de uma caixa específica para transporte de serpentes.

A jararaca capturada foi solta em local distante do encontrado, mas no mesmo maciço de mata atlântica que habitava, ou seja, na Reserva Florestal do Morro Grande em Cotia/SP, uma área protegida e administrada pela SABESP com 10.400 ha de mata atlântica preservada.  

Sobre as jararacas

Algumas espécies são conhecidas popularmente por jararaca, jararaquinha, jararacuçu, urutu, urutu-cruzeiro entre outras mais. Pertencentes a família Viperidae, o gênero Bothrops compreende por volta de 21 espécies atualmente reconhecidas, possivelmente 24, mas ainda é questionável. Todas as serpentes deste gênero são peçonhentas,  possuindo uma dentição do tipo solenóglifa, ou seja, dentes inoculadores completamente caniculados como uma agulha de injeção. Quando a serpente esta de boca fechada, os dentes inoculadores que são longos, ficam curvados para trás, assim que o animal abre a boca para desferir o bote, os dentes inoculadores sofrem uma rotação e são projetados pra frente. Tanto as jararacas como as cascavéis gênero Crotalus e surucucu ou pico-de-jaca gênero Lachesis possuem fosseta loreal, um orifício localizado entre o olho e a narina, possui função de termorreceptor, percebendo a presença de calor, permitindo que a serpente possa caçar no escuro presas homeotérmicas (de corpo quente) como aves e mamíferos.

Diversidade

São encontradas em sua maioria nas áreas úmidas como as matas, mas existem também espécies que habitam ecossistemas de cerrado e caatinga. Segue abaixo a lista de algumas espécies do gênero Bothrops.

* Espécies na lista de ameaçado de extinção (IBAMA e IUCN) e sua categoria de ameaça. VU; Vulnerável, EM; Em perigo e CR; Criticamente em perigo

Bothrops alternatus (Urutu-cruzeiro)

Bothrops cotiara

Bothrops fonsecai (Cotiara, Urutu)

Bothrops itapetiningae

Bothrops erythromelas (Jararaca-da-seca)

Bothrops mattogrossensis

Bothrops neuwiedi (Jararaca-do-rabo-branco ou Jararaca-pintada)

Bothrops pubescens

Bothrops urutu (Urutu)

Bothrops jararaca (Jararaca)

Bothrops insularis (Jararaca-ilhoa) * CR

Bothrops alcatraz (Jararaca-de-Alcatrazes) * CR

Bothrops bilineatus (Jararaca-verde)

Bothrops taeniatus

Bothrops atrox (Jararaca-do-norte)

Bothrops leucurus (Jararaca)

Bothrops marajoensis

 Bothrops moojeni (Caiçara)

 Bothrops pradoi

 Bothrops brazili

 Bothrops jararacussu (Jararacuçu)  

 Bothrops pirajai (Jararaca) * EM (IBAMA) e VU (IUCN)  

 Bothrops iglesiasi

 Bothrops piauhiensis

Curiosidades

De todas as espécies de jararaca (gênero Bothrops) a menor espécie é Bothrops itapetiningae, porém a mais agressiva talvez seja B. moojeni , mas de todas as serpentes do gênero Bothrops, a detentora do veneno mais potente, sem sombra de dúvida é a B. insularis (Jararaca-ilhoa), habitando a ilha Queimada Grande situada no litoral sul de São Paulo a 35 km da costa, adquiriu determinada característica para um veneno de ação mais tóxica nas presas, isso se deve ao seu isolamento do continente, pois houve uma pressão seletiva para toxinas que possuam uma ação mais rápida sobre as presas da ilha, dieta constituída preferencialmente de aves marinhas migratórias, uma vez que na ilha não existem pequenos mamíferos. Quando filhotes provavelmente alimentam-se de pequenos  invertebrados e anfíbios. Diferentemente do que ocorre com as jararacas do continente, não há a possibilidade de picar sua presa e em seguida rastreá-la com o auxílio olfativo da língua e órgão de Jacobson. Portanto o veneno da jararaca-ilhoa deve agir o mais rápido possível, evitando que a presa se afaste demais e acabe até mesmo caindo ao mar, impedindo assim a sua busca e desperdiçando o precioso veneno. Além desta, existe outra espécie de jararaca que também passou pelo mesmo processo de evolução na história natural, isolando-se e originando a denominada jararaca-de-Alcatrazes, referência ao mesmo nome do arquipélago e sua maior ilha onde habita, o arquipélago também encontra-se a 35 km do continente.

Acredita-se que ambas espécies que agora vivem isoladas nas ilhas tenham sido originadas por ancestrais de B. jararaca do continente. O isolamento pode ter ocorrido há pelo menos 11.000 anos ou mesmo antes, durante as oscilações do nível do mar no Pleistoceno. A jararaca de Alcatrazes também corre risco de extinção devido aos bombardeios da Marinha Brasileira na Ilha.

Acidentes

O gênero Bothrops é responsável por 80% dos casos de morte na América Latina. A maioria dos casos de acidentes no Brasil é causado por serpentes do gênero Bothrops, dentre estas em seguida estão as cascáveis (gênero Crotalus). No passado não muito distante, a empresa “Hollywoodiana” explorou em seus diversos filmes uma série de pessoas picadas por serpentes venenosas e que graças a homens corajosos com seus truques, estas eram salvas. No entanto tais procedimentos errôneos estão ainda hoje enraizados na cultura popular, principalmente nas populações que vivem mais afastadas dos grandes centros urbanos. Fazer torniquete, furar o local da picada, chupar o veneno e cuspir, dar bebida alcoólica para o acidentado e utilização de ervas, folhas e raízes no local da picada, só pioram o quadro clínico do acidentado, muitas vezes devido as estes procedimentos errôneos acabam por resultar na amputação de membros necrosados e até mesmo levar a morte. Pois o veneno possui ação hemolítica e proteolítica, destruindo fibras musculares e tecidos.

O correto é procurar imediatamente um posto médico para tomar o soro antiofídico, somente o soro pode curar.

Prevenindo acidentes 

Não caminhe descalço na mata ou plantações, recomenda-se usar botas de cano alto, protegendo o máximo possível à canela. Olhe bem onde pise ou pegue algo no chão. Mantenha os quintais limpos de detritos ou material que sirva de alimento para ratos, atraindo serpentes.

Proteger e conservar

Se as jararacas e demais serpentes peçonhentas são os predadores que controlam as populações de ratos e camundongos, a muçurana (Clelia sp.) é  um dos predadores que fazem o controle alimentando-se das jararacas. A muçurana é uma serpente imune ao veneno das jararacas, com exceção da cobra-coral. Portanto devemos acabar com a cultura enraizada de matar serpentes quando encontramos, seja peçonhenta ou não peçonhenta, deixe-a livre para ir embora ou chame as autoridades competentes para realizar tal captura. No Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos algumas vezes recebemos as serpentes já mortas ou agonizando, devido às pauladas na cabeça, impossibilitando a recuperação e possível soltura na natureza.

Ficha biológica da Jararaca (B. jararaca)

Classe: Reptilia

Ordem: Squamata

Família: Viperidae

Subfamília: Crotalinae

Nome científico: Bothrops jararaca

Nome popular: Jararaca

Distribuição: América do Sul

Habitat: Florestas e cerrado

Hábito: Noturno

Tamanho: De 0,5 a 1,20 m de comprimento

Características: De todas as jararacas é a mais conhecida e muito perigosa. Seu padrão de desenhos e colorido torna-a de difícil visualização em meio ao folhiço,  proporcionando uma excelente camuflagem, mesmo para olhos treinados. Possui atividade arborícola e terrestre.

Alimentação: Os filhotes tanto da jararaca como da maioria dos membros do gênero Bothrops, possuem a extremidade da cauda mais clara ou amarelada, sendo utiliza para o engodo (atrair) de pequenas presas como rãs, sapos, e pequenos lagartos. Quando adulta alimenta-se principalmente de pequenos roedores e marsupiais.

Reprodução: Vivípara, ou seja, os filhotes nascem já formados e idênticos aos pais, ao invés de colocar ovos. Os nascimentos iniciam-se na estação chuvosa.

 * Peçonhenta (venenosa)

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