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Artigo 225, CF:

"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações"

 

Cuícas e Furões

Sandro Secutti

Biólogo  

          Não tenho dúvidas de que 2005 será um ano de grandes mudanças e surpresas para toda a equipe do Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos, seja na parte jurídica, medicina veterinária e biológica, esta ultima começando pela chegada de dois animais silvestres bem diferentes do que costumamos receber em nossas rotinas de apreensões. No dia 01 de fevereiro recebemos da policia militar um exemplar macho de cuíca ou cuíca-lanosa (Caluromys lanatus) vinda da região de Ibiúna/SP, apresentando uma grave paralisia nas patas posteriores. Para aqueles que não fazem a mínima idéia do que seja uma cuíca, olhando rapidamente talvez confundam com um rato, mas se observarmos com mais detalhe veremos que de roedor não possui nada, começando pela dentição e pelo modo de reprodução, pois estes animais são marsupiais como os cangurus da Austrália, porém pertencem a uma outra ordem e família. São morfologicamente semelhantes aos gambás que vivem na América do sul (gênero Didelphis) outro marsupial bem conhecido no Brasil.

            O outro ex-morador que chegou no dia 17/01 trazido pelo Corpo de Bombeiro de Barueri/SP, era um jovem macho de furão, não estou me referindo aos também denominados por ferrets, mas sim ao nosso furão ou grison silvestre (Galictis cuja). Assim que chegou ao Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos logo percebemos que se tratava de um animal que veio da natureza, pois não tolerava a presença humana nem de longe, demonstrando muita agressividade e estresse ao cativeiro, produzindo grunhidos, roncos, gritos e até latidos, o que particularmente me deixou muito feliz, pois são estes os animais que após tratamento médico veterinário adequado para eliminação de parasitas e demais ferimentos, como havia ocorrido, possuem maiores chances de sobreviver quando devolvidos novamente para a natureza. Infelizmente devido as fortes pauladas na cabeça, causando-lhe um grande ferimento, acabou entrando em óbito no dia 20/01. 

Gambás, cuícas e catitas

             Os marsupiais que compõem a fauna brasileira estão compreendidos entre os vulgarmente denominados gambás, cuícas e catitas, todos pertencentes à família Didelphidae. Possuem ampla distribuição nas Américas, ocorrendo desde o Estado da Virgínia nos Estados Unidos, até o sul da Argentina. Não são animais grandes, os maiores são os gambás norte-americanos, podendo pesar 6 kg, enquanto que os menores chegam a pesar no máximo 10 gramas e vivem de um a dois anos.

            No Brasil ocorrem quatro espécies de gambás; Didelphis aurita, D. albiventris, D. marsupialis e D. paraguaiensis. A etimologia do nome popular gambá originou-se da língua tupi-guarani, “gã’bá ou guaambá” que significa gua = ventre + ambá + aberto ou oco, alusão feita ao marsúpio. Vale lembrarmos de tomar cuidado para não confundir com outro animal, o cangambá (Mephitis mephitis, Conepatus chinga ou C. semistriatus), que embora pareçam semelhantes, não são marsupiais, pois pertencem a família Mustelidae.

            Salvo os gambás, a maioria das espécies pequenas (cuícas e catitas) não possuem o marsúpio, ou seja, uma bolsa onde os filhotes se desenvolvem após nascerem, como ocorre nos gambás e cangurus australianos. Então como terminam o restante do desenvolvimento?

            Nas espécies em que o marsúpio é ausente, os embriões após saírem do útero, ficam agarrados nas tetas da mãe e nas pequenas dobras de pele da barriga até tornarem-se filhotes, sendo facilmente visualizados quando se expõe o ventre do animal. O ciclo reprodutivo é bem definido durante o ano. As cuícas e catitas possuem olhos proeminentes, pelagem curta, fina e aveludada, além de uma cauda preênsil, alimentam-se de frutos e invertebrados como insetos, aranhas e pequenos vertebrados. São animais solitários de hábitos noturnos e parcialmente arborícolas, podendo algumas vezes descer ao solo para se alimentar. No caso dos gambás, devido aos hábitos alimentares generalistas, podem se adaptar bem nas áreas alteradas pelo homem, além de terem a grande maioria de seus predadores naturais afastados. Não só adaptaram-se bem ao ambiente urbano, como também conseguem reproduzir até três vezes durante o ano, nascendo de 10 a 20 filhotes, aumentando a capacidade de perpetuar a espécie. Os embriões saem do útero com 1,0 centímetro de comprimento e dirigem-se até a bolsa da mãe, onde encontram as mamas, ocorrendo uma soldadura entre a boca e a mama. Após 4 meses abandonam o marsúpio e ficam agarrados no dorso na mãe.

            São considerados os jardineiros das florestas, pois quando se alimentam de frutas, as sementes ingeridas ao passar pelo trato digestivo do animal acabam tendo o seu estado de dormência quebrado, tornando-se prontas para a germinação assim que saem juntamente com as fezes.            

Curiosidades

            Algumas cuícas são adaptadas para nadar e mergulhar, possuindo membranas interdigitais nas patas, como no caso da cuíca-d’-água (Chironectes minimus) espécie mais rara, que vive em locais de água parada, rios e córregos de florestas primárias, possui a bolsa marsupial completa. Outro marsupial que também gosta de regiões alagadas é a cuíca-d’-água-pequena (Lutreolina crassicaudata) habitando bordas de represas e brejos.

            Quando nos referimos aos gambás (Didelphis spp.), quase que diretamente nos vem à memória o seu comportamento defensivo, sendo muito explorado pelos desenhos animados como animais de cheiro desagradável, porém na vida real não é bem assim, quando não perturbados, não produzem mau cheiro algum, apenas o odor característico do próprio corpo, mas quando ameaçados podem exibem diversos comportamentos defensivos, como a produção de sons, mordidas e até fingir-se de morto mesmo quando agredido antes de eliminar o seu famoso líquido fétido, este produzido pelas glândulas axilares como ultimo recurso de defesa, expulsando o agressor impregnado pelo forte cheiro, conseguindo desse modo escapar rapidamente do predador tomado por náusea. Os filhotes quando também ameaçados correm para a bolsa da mãe, colocando apenas a cabeça pra fora apenas dando aquela espiadinha pra ver o que esta acontecendo. Mas esse mesmo odor ruim também é usado para o amor, pois com este forte odor as fêmeas no cio conseguem atrair vários pretendentes.

            Os gambás além de se alimentarem de ovos, insetos, vermes, raízes e frutos, também gostam de caçar anfíbios e serpentes, sendo imunes ao veneno das cascavéis (Crotalus sp.),  jararacas (Bothrops sp.) e até das extremamente venenosas corais (Micrurus sp.) atacando as serpentes com mordidas na cabeça.

 Diversidade e status

              A generalização do nome vulgar cuíca ou catita é usado indistintamente para marsupiais de tamanho médio ou pequeno, compreendendo espécies de vários gêneros, como por exemplo; Marmosa, Marmosops, Chironectes, Lutreolina, Metachirus, Gracilinanus, Philander, Caluromysiops, Caluromys, Monodelphis e Micoureus.

            Na Mata Atlântica são reconhecidas atualmente 23 espécies de marsupiais, sendo que  destas nove são endêmicas. Dentre estes marsupiais a cuíca-de-colete (Caluromysiops irrupta) encontra-se na lista de animais ameaçados de extinção do IBAMA, na categoria de criticamente em perigo e na lista vermelha mundial da IUCN na categoria de vulnerável, juntamente com as cuícas, Caluromys lanatus, C. philander, Chironectes minimus, Marmosa lepida, Marmosops incanus,  M. parvidens e Micoureus constantiae todas na categoria de próximo de ameaça ou provavelmente ameaçada.

            São conhecidas no mundo 12 famílias extintas de marsupiais, ou seja, no passado os marsupiais eram muito mais representativos na fauna que nos dias de hoje se compararmos com os placentários. Imaginem quantas espécies existiriam atualmente se estas famílias extintas e seus representantes diversificados para os dias atuais estivessem vivos.   

Histórias do gambá

            Segundo os anais da História da América, o gambá Didelphis marsupialis foi o primeiro animal do Novo Mundo a ser conhecido na Europa em 1500 por Vicente Yáñez Pinzón, na época era chamado de animal monstruoso, pois causava muita curiosidade pelo fato de possuir uma bolsa ventral (marsúpio), visto que não existiam mais marsupiais na Europa desde o período terciário, a milhões de anos atrás.

            É verdade que os gambás apreciem ovos e aves, sendo muitas vezes encontrados em galinheiros, em estado de torpor profundo após saciado, sendo encontrado pela manhã no dito popular como que de ressaca, daí surgiu à crença que basta colocar um copo de pinga no galinheiro que na manhã seguinte o gambá estará embriagado, originando o ditado “bêbado como um gambá”, fato este nunca comprovado pela ciência.

Ficha biológica de Cuíca-lanosa

Classe : Mammalia

Subclasse : Theria

Infraclasse : Metatheria (Marsupialia)

Ordem : Didelphimorphia

Família : Didelphidae

Nome cientifico : Caluromys lanatus

Nome popular : Cuíca ou Cuíca-lanosa

 

Distribuição : Leste do Brasil, do Espírito Santo até o sudeste, passando por São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul

 

Habitat : Arborícola, floresta estacional semidecidual, ombrófila mista e cerrado

 

Hábitos : Noturnos

 

Tamanho : 22 a 29,5 cm de corpo e 33 a 43,5 cm de cauda

 

Peso : 260 a 485 g

 

Furões

            No Brasil ocorrem duas espécies de furão do gênero Galictis, são estas G. cuja e G. vittata, esta ultima possui o tamanho um pouco maior que G. cuja, ocorrendo em uma distribuição mais oriental entre Minas Gerais e Santa Catarina e norte do Brasil, enquanto que G. cuja de menor tamanho distribui-se numa porção mais centro-oriental em direção ao sul do Brasil, no entanto essas distribuições ainda estão incertas, necessitando mais estudos.

            Ambas espécies são animais de pequeno porte, pesando no máximo de 1 a 3 kg e medindo de 50 a 70 cm de comprimento. O furão silvestre possui o corpo alongado e pernas curtas, sua cabeça é esguia e pontiaguda em um pescoço flexível, sua cauda é curta. São muito rápidos e ágeis sendo bons escaladores, trepando com agilidade sob os galhos, além de saberem nadar. Vivem solitários ou em casal, mas freqüentemente podem ser encontrados em pequenos grupos, talvez sejam os familiares. Alimentam-se de frutos e quando no solo capturam pequenos animais como répteis, anfíbios, mamíferos e aves, incluindo seus ovos, além de insetos. Utilizam como abrigo os ocos de arvores, pedras ou escavam uma toca no solo.

            Sua pelagem é bem característica, possuindo a face, membros e garganta negros, enquanto que as costas são acinzentadas, na região da cabeça até o pescoço, existe uma faixa branca entre os dois limites de cor.      

Ficha biológica do Furão

Classe : Mammalia

Subclasse : Theria

Infraclasse : Eutheria (Placentalia)

Ordem : Carnívora

Família : Mustelidae

Nome cientifico : Galictis cuja

Nome popular : Furão, Cachorrinho-do-mato ou Aracambé

 

Distribuição : Brasil oriental e central

 

Habitat : Florestas e áreas abertas como capoeiras

 

Hábitos : Matutinos e crepusculares, mas ocasionalmente também podem ser ativos durante todo o dia e noite.

 

Tamanho : De 50 a 70 cm de comprimento

 

Peso : De 1 a 3 kg

 

 

  

  

     

  

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