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Sobre a ASERG
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Meio ambiente como limite ao desenvolvimento? Ou a limitação do entendimento humano em relação ao verdadeiro desenvolvimento?
por
Renata de Freitas Martins Jurídico Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos Breve Introdução Histórica
1500
- este o ano do chamado descobrimento do Brasil pelos portugueses. Também
conhecido como o ano em que a destruição ambiental de nosso país teve
início. Brasil
Colônia - índios dizimados, escravizados e afastados de suas raízes
culturais. Africanos trazidos como escravos, morrendo de banzo e passando
por situações absurdamente inacreditáveis. Jesuítas impondo uma religião
totalmente diferente ao povo nativo e aos “seus” escravos. Grande
parte de nossa Mata Atlântica já devastada enormemente neste período
colonial, devido à extração desenfreada do pau-brasil e da agricultura
canavieira no Nordeste. A abundante fauna brasileira chamando muita atenção
dos colonizadores era capturada e levada para Portugal, ou caçada para a
satisfação do ego humano ou então apenas para que usassem as peles.
Animais exóticos também eram trazidos para o Brasil e
indiscriminadamente introduzidos por aqui. Pecuária e mineração também
já fazem parte da nova cultura da devastação que vinha sendo trazida
como novidade à bela nova colônia. Brasil
Império – mais destruição das matas nativas, dessa vez por conta da
expansão da monocultura do café e sua constante expansão. Inauguração
de estradas de ferro. 15% da população do país constituída por
escravos. Expansão da extração da borracha na Amazônia. Brasil
República – a cultura cafeeira ainda é forte, sendo que entre 1920 e
1930 chega a quase 70% do total de exportações do Brasil. O processo de
expansão industrial é intensificado no Brasil nas décadas de 40 e 50.
Criação da Petrobrás. Crimes Ambientais. Crimes Ambientais. Crimes
Ambientais. Tudo em nome do bem-estar (?) dos seres humanos, do
desenvolvimento e da civilização das cidades... É o milagre do
crescimento (???). Este
um breve e pobre resumo da evolução histórica do desenvolvimento
anti-ambiental em nosso país. Mas
apesar de tudo... O Brasil possui a
maior biodiversidade do planeta, reunindo por volta de 20% das espécies
vegetais e animais do mundo. Com 50 mil a 56 mil espécies de plantas
superiores (árvores e arbustos), tem o primeiro lugar em diversidade
vegetal. Nenhum outro país possui tantas espécies de palmeiras (390),
nem de orquídeas (2,3 mil catalogadas). Igual posição ocorre entre os
mamíferos, pois concentramos 524 espécies, sendo 77 de primatas, o que
equivale a 27% do total de macacos do mundo. Também somos o país com o
maior números de espécies de peixes de água doce (mais de 3 mil), o
segundo em número de anfíbios (517 espécies) e o terceiro em número de
aves (1.677 espécies, das quais 191 endêmicas). ... e tudo muito ameaçado
A
derrubada de florestas, as queimadas, a destruição dos ecossistemas, a
poluição dos rios e o tráfico de animais silvestres estão entre os
fatores que ameaçam a biodiversidade brasileira. De
acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza –
IUCN, o Brasil é o quarto país com maior número de espécies ameaçadas
de extinção, 655. Para o Ibama, estão sob risco de desaparecimento no
país 220 espécies animais (110 aves, 67 mamíferos, 29 insetos, 9 répteis,
1 anfíbio, 1 artrópode, 1 coral, 1 peixe e 1 crustáceo) e 108 espécies
vegetais. Impactos Ambientais
Como já vimos
brevemente, desde o “descobrimento” as atividades econômicas adotadas
no Brasil são prejudiciais ao ambiente. No início foi a exploração do
pau-brasil, seguida pela derrubada sem critério de amplas extensões de
mata para a instalação de pastagens ou monoculturas, como a cana-de-açúcar
e o café. Dessa forma, instalou-se uma tradição de práticas danosas,
como as queimadas e corte de árvores sem o cuidado de garantir a reposição
das espécies. Atualmente
agricultores e madeireiras continuam a devastar grandes áreas da Floresta
Amazônica, da Mata Atlântica, do cerrado e da caatinga. O país sofre
também com outros problemas ambientais graves, como as queimadas – que
contribuem para o aquecimento global e as alterações climáticas – e o
aumento da emissão do monóxido de carbono (emitido principalmente pelo
setor industrial e de transporte), que afeta a saúde da população das
grandes cidades, além dos coliformes (bactérias) existentes nos esgotos
residenciais e os metais pesados lançados pelas indústrias. No
caso dos ecossistemas aquáticos, as maiores ameaças são poluentes de
origem orgânica produzidos tanto por dejetos domiciliares quanto pelas
indústrias e, ainda, o fósforo, presente em produtos como os
detergentes. Em contato com o nitrogênio, o fósforo estimula o
crescimento de enormes quantidades de bactérias azul-esverdeadas. O
processo, que deixa as águas de rios e represas verdes, provoca a perda
de oxigênio e a conseqüente mortandade de peixes. Despejado
sem tratamento em rios e córregos, ou muitas vezes deixado a céu aberto,
o lixo contamina as águas da superfície e subterrâneas. A
impermeabilização desordenada do solo é um dos motivos do aumento no número
de enchentes e inundações. Transformadas em verdadeiras ilhas de
concreto, com poucas áreas verdes preservadas, as cidades sofrem ainda
com a elevação da temperatura e com a poluição sonora, visual,
eletromagnética etc. E
por falar em cidades de concreto, devemos ressaltar que a urbanização é
um fato irreversível em praticamente todo o planeta. No início do século
20, apenas 10% da humanidade residia em áreas urbanas. Hodiernamente,
metade, ou seja, mais de 2,9 bilhões, vive em cidades. Existem 19
megacidades, das quais 15 localizadas nos países ditos em
desenvolvimento, com população acima de 10 milhões de habitantes. Junto
com as grandes cidades, purulam as diferenças sociais. Há abismos
sociais entre vizinhos “de paredes”, praticamente. Sim. Onde estão os
enormes empreendimentos de condomínios de luxo, também podemos encontrar
enormes invasões clandestinas e barracos sendo construídos em
velocidades invejáveis a qualquer empreendedor da área de construção.
Pior. Muitas vezes esses condomínios de luxo estão tão irregulares
quanto os barracos das invasões, em áreas de mananciais, em áreas de
proteção ambiental etc. O dinheiro pode tudo? Licenças ambientais são
meros detalhes? Os empreendimentos trazem desenvolvimento, portanto, o que
importa o ambiente? Questões que ficam para a reflexão de nossos
leitores. Falarmos
em ambiente urbano e no ambiente natural presente no urbano é de suma
importância para que possamos tentar ter um mínimo de qualidade de vida
nas selvas de pedra criadas pelo próprio homem e para que tentemos
amenizar um pouco todos esses impactos ambientais que já citamos e tantos
outros que não enumeramos neste texto, sob pena de nos tornarmos prolixos
demais. Legislação Ambiental no Brasil
Do
mesmo modo que traçamos uma breve introdução histórica do Brasil, também
achamos importante relatarmos a existência de nossa legislação
ambiental pátria, uma das mais evoluídas do mundo, deixando claro que
instrumentos para a proteção ambiental são fartos e nos cabe aplicá-los
e fazê-los cumprir. Mais uma vez ressaltamos que seria muito prolixo
citarmos todas as leis e instrumentos protetivos que temos, portanto,
selecionamos algumas das principais leis. Em
1981 foi promulgada a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei
6.938, de 31.8.81), dando início ao desenvolvimento do Direito Ambiental
brasileiro, com definições importantíssimas de meio ambiente, degradação
da qualidade ambiental, poluição, poluidor e recursos ambientais, bem
como instituiu um valioso mecanismo de proteção ambiental denominado
“estudo prévio de impacto ambiental” (EIA) e seu respectivo relatório
(RIMA), instrumentos eficazes e modernos em termos ambientais mundiais. Seguiu-se
a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347, de 24.7.85) que tutela os
valores ambientais, disciplinando a ação civil pública de
responsabilidade por danos causado ao meio ambiente, ao consumidor, a bens
e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Em
1988, a nossa Constituição Federal dedicou em seu título VIII- da Ordem
Social, no capítulo VI, art. 225 e parágrafos, normas direcionais da
problemática ambiental, dando as diretrizes de preservação e proteção
dos recursos naturais incluindo nelas a fauna e flora, bem como, entre
outras medidas, normas de promoção da educação ambiental, definindo o
meio ambiente como bem de uso comum do povo. Por
sua vez, a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada no Rio de Janeiro, em 1992 (a ECO-92, como ficou conhecida),
sacramentou, em termos mundiais, a preocupação com a problemática
ambiental, reforçando os princípios e regras para o combate à degradação
ambiental, elaborando a Agenda 21, instrumento diretriz do desenvolvimento
sustentável. Finalmente,
em 1998 surgiu a Lei dos Crimes Ambientais, tratando de forma muito mais
rigorosa crimes que outrora eram considerados apenas como contravenções
penais, pelo Decreto-Lei n.º 3.688, de 3 de outubro de 1941- Lei de
Contravenções Penais. Os Crimes Ambientais e o movimento
ambientalista no Brasil
De 37 graves
problemas ambientais provocados por empresas no mundo inteiro, 6 ocorreram
no Brasil. A maioria envolvendo multinacionais e localizada em áreas
densamente povoadas. O levantamento foi divulgado pelo Greenpeace em junho
de 2002, em uma reunião preparatória da Conferência Rio +10 realizada
em Bali, Indonésia. Além
desses problemas ambientais de grande visibilidade, temos milhões de
outros casos locais, que se estendem por anos, e que alcançam resultados
negativos tão catastróficos quanto aqueles. Aliás,
tendo-se em vista a crescente problemática em relação à conservação
e preservação do meio ambiente, esta questão ganha destaque no Brasil a
partir de 1970, com a rearticulação dos movimentos sociais e o
surgimento de pequenos grupos que apontam a necessidade de incluir o tema
do meio ambiente nas discussões da sociedade. Um marco do movimento nessa
época é a luta contra a construção do aeroporto de Caucaia do Alto
(Cotia, SP), em uma área de mananciais e de Mata Atlântica. Na década
de 80, com a redemocratização do país, cresce o número de ONGs
ambientalistas e surgem novas propostas de preservação do meio ambiente.
Algumas se transformam em políticas públicas, dando contornos mais
definidos à legislação ambiental brasileira, a qual já abordamos
brevemente em tópico anterior. Conclusões
Talvez até este
momento o objetivo deste texto não tenha ficado claro. Propositalmente
fizemos isso. Fizemos questão de
trazer diversas informações, dados e questões esparsas relacionadas ao
desenvolvimento e ao meio ambiente, para que nosso leitor fosse levado a
algumas reflexões durante sua leitura. E o motivo para esta
escolha neste mês foi o grande número de animais vítimas do
desenvolvimento (?) que o Rancho dos Gnomos recebeu nestes últimos 30
dias. Pois bem. Agora sim
deixamos definitivamente a questão final que gostaríamos que ficasse
para a reflexão de todos. Será que este dito
desenvolvimento, em que mata nativa é brutalmente derrubada para a
construção de mais uma estrada para o bem-estar dos humanos, por
exemplo, pode realmente ser considerado desenvolvimento? Será que o
problema é aquele animal silvestre, que teve sua morada dizimada com a
construção de um enorme e chique condomínio de casas no meio de seu
antigo habitat natural e ousa cruzar na frente de um carro de um
“civilizado” qualquer, causando algum acidente? (normalmente o único
prejudicado é o próprio animal, que quando não morre, fica com danos físicos
irreversíveis)? Será que o problema de falta de moradias é único e
exclusivo do meio ambiente, que é normalmente o “prejudicado” com
invasões e loteamentos irregulares e clandestinos? Essas apenas algumas
questões a serem levantadas. E já que não temos
como voltar 505 anos atrás, às origens do país, que pelo menos
reflitamos sobre a necessidade deste dito desenvolvimento, que na verdade
nada tem de positivo, pois além de degradar o ambiente que parcamente
ainda nos resta, normalmente são medidas pouco inteligentes para a solução
dos problemas das cidades, sendo apenas medidas imediatistas e paliativas
e que em poucos anos, ou até mesmo em poucos dias, serão apenas mais um
problema (pois é... algumas obras já causam problemas em poucos dias após
suas inaugurações eleitoreiras...). Já que clamam pelo tal do
desenvolvimento, que pelo menos este seja sustentável. Mas sustentável e
inteligente. Não apenas no discurso, mas na prática. E para isso, é de
suma importância a participação da sociedade, que como também citamos
anteriormente neste texto, é muito importante para a fiscalização e
participação nas políticas públicas. Cremos que ninguém mais
interessado na preservação de nossas próprias vidas do que nós mesmos,
não? Mero instinto de sobrevivência! Finalmente, para
concluirmos de vez este texto que apesar de termos poupado diversas citações
sob pena de prolixidade, já caímos neste problema, temos que ressaltar o
contra-senso que o Rancho dos Gnomos vem acompanhando em sua própria região. A degradação
ambiental local, sob os auspícios do governo, é lastimável. Este um dos
maiores motivos da quantidade enorme de animais vitimados que temos
recebido nos últimos tempos. Bicho-preguiça “filho” do rodoanel.
Veado filhote perdido na selva de pedras de um condomínio qualquer, após
atropelamento de sua mãe. Macaco que ousou entrar em alguma casa e levou
uma bela pancada em sua cabeça... e por aí vai. E por que falamos que se
trata de um contra-senso? Lembram-se quando
citamos como um dos grandes marcos históricos do ambientalismo no Brasil
a vitória pela não construção do aeroporto em Caucaia do Alto? Pois é...
esta foi uma grande vitória dos ambientalistas entre os anos de 1975 e
1978 nesta região no Morro Grande, em Cotia. E é exatamente esta área,
entorno do Rancho dos Gnomos, que hoje está sendo invadida e totalmente
devastada. O que diriam e fariam os ambientalistas vitoriosos da época
vendo uma situação lastimável desta? Pois é. Nós com certeza não nos calaremos. Pela memória da vitória do movimento ambientalista na década de 70. Pela vida dos humanos que pensam que estão se desenvolvendo. Pela vida dos animais. Pela preservação e conservação do pouco que ainda nos resta. PELO DESENVOLVIMENTO DE VERDADE! E PELA REFLEXÃO DE QUE O VERDADEIRO DESENVOLVIMENTO NÃO É A DESTRUIÇÃO AMBIENTAL. A sociedade consciente e unida consegue reverter esta situação sim!
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